Os Oráculos da Internet - série de reportagens de Sérgio Charlab, sobre os instrumentos de busca da Internet, conforme publicado na sua coluna "Ciberespaço", do Jornal do Brasil, e que o mesmo, gentilmente, nos autorizou a reproduzir, em DICAS da Semana.
Os Oráculos Digitais: Bookmarks (Tutorial, parte 8)
O Bookmarks já sai na frente de qualquer
outro oráculo digital conhecido, com pelo menos cinco endereços onde
você pode acessá-lo:
1. http://bookmarks.ax.apc.org/
2. http://bookmarks.apc.org/
3. http://bookmarks.ibase.br/
4. http://bookmarks.ibase.org.br/
5. http://bookmarks.alternex.com.br/
O mais curto é o que eu reproduzi entre parênteses, logo na primeira
linha. As múltiplas URLs não são demonstração de insegurança, estratégia
para facilitar o acesso e tampouco reflexo de desorganização. Exibem,
sim, um provedor que faz parte da história da própria Internet
brasileira, o Ibase, buscando uma nova identidade profissional, com a
marca AlterNex, e para isso exibindo criatividade e iniciativa.
Só mesmo estas duas coisas podem explicar o aparecimento do Bookmarks,
que indexa mais de 100 mil documentos no domínio .br e promete dominar a
atividade de oráculo digital em toda a América Latina.
Sei que alguns devem estar lamentando a suposta injustiça que cometo
hoje ao destacar o Bookmarks num universo brasileiro que há muito dispõe
de oráculos mais antigos, mais famosos e até mais charmosos, como é o
caso do Yaih? ou do Cadê?. Mas só há um único outro oráculo brasileiro
que poderia "reclamar" espaço aqui, o Argos.
Por quê? Argos e Bookmarks são os únicos oráculos brasileiros com
motorzinho de popa (se houver mais, que entre em contato comigo ou
cale-se para sempre). Ou seja, dispõem de um mecanismo ativo que sai
vasculhando a rede em busca de novas páginas. Os demais dependem da
adição manual de páginas pelos visitantes ou pelos idealizadores.
O Bookmarks é fácil de usar. Funciona com tecnologia Opentext. Você
escreve uma ou mais palavras na ranhura apropriada. Seleciona o modo
"esta frase" (apresenta resultados com todas as palavras na exata ordem
que estão escritas), "todas estas palavras" (leva em conta a existência
de todas as palavras, mas em qualquer posição), e "qualquer uma destas
palavras" (responde com páginas que tenham pelo menos uma das palavras
usadas na busca).
Busquei a palavra "argos" no Bookmarks e encontrei 243 respostas. Depois
fui ao próprio Argos comparar e encontrei oito respostas apenas, nenhuma
delas a do próprio site do Argos. "Charlab" gerou 95 respostas no Argos,
contra 264 no Bookmarks. E para não ter mais dúvidas despejei ali uma
busca por "Tiririca" e recebi 42 respostas no Bookmarks contra apenas
uma (!) do Argos.
Não posso estar muito errado ao concluir que se for apenas uma questão
de (ehr...) potência e tamanho, fique com o Bookmarks.
Ao responder a uma busca, o Bookmarks informa o número de documentos
encontrados e exibe os 10 primeiros. Em geral, responde muito
rapidamente. Aí permite que se escolha entre duas opções: "Selecione
documentos a ver" e "Busque documentos similares". Nos dois casos, a
primeira coisa a fazer é clicar nos quadradinhos que aparecem à esquerda
da URL de cada resposta, selecionando algumas. Aí o Bookmarks reage
segundo a opção, mostrando todos os que você selecionou ou realizando
uma nova busca a partir da sua escolha.
O Bookmarks também apresenta respostas usando "score", e ordenando por
relevância. Permite ainda que se veja, antes de acessar a página, os
locais em que houve coincidência de frases ou palavras com a sua busca,
e uma cópia da própria página. Note que, ao apresentar uma cópia da
página em seu banco de dados, o Bookmarks evita a irritante mensagem de
que não existe a página, frequente nos demais mecanismos. Por outro
lado, a cópia pode representar o último sopro de vida de uma página que
mudou ou que já não existe, o que tem seu lado bom e ruim.
Por ora, é o que há de mais distinto no Bookmarks, que de resto não
oferece outras opções de configuração ou variedade de sintaxes de busca.
Convencido de que o Bookmarks é superior ao Argos (para não falar no
fato de que o banco de dados do Argos parece não sofrer atualização há
algum tempo), resolvi fazer a grande pergunta: afinal, qual a vantagem
de um oráculo brasileiro que se restrinja geograficamente aos domínios
.br ou à América Latina, em comparação com os poderosos Altavista,
HotBot e Infoseek Ultra?
Não pretendo apresentar dados conclusivos aqui. E lembre-se que o
Bookmarks só atua em domínios brasileiros. Se um brasileiro em Helsinque
faz uma página sobre César Maia o endereço não aparecerá no Bookmarks,
mas possivelmente estará entre as respostas dos demais mecanismos.
Trata-se, portanto, de uma pesquisa de observação. Vamos ver o resultado
de algumas buscas, comparativamente, do Bookmarks (o primeiro número)
contra o Altavista (o segundo número). Leve em consideração que
quantidade de respostas nem sempre representa garantia de sucesso para
quem pesquisa.
Tiririca: 42 x 28
"Mamonas Assassinas": 128 x 200
"Sergio Cabral": 27 x 52
Manequinho: 2 x 5
Num enfoque mais qualitativo, veja o que acontece:
"Descoberta do Brasil": 7 x 0
Mas aí é preciso considerar as peculiaridades de sintaxe de busca.
Refazendo a busca no Altavista com a sintaxe [+descoberta +Brasil]
recebo 37 respostas, das quais a quarta
(http://www.brasil.emb.nw.dc.us/bzhisto1.htm), num domínio estrangeiro e
que portanto não será apontada pelo Bookmarks, era o meu sonho de
trabalho escolar quando eu tinha oito anos.
Esta foi a oitava parte da série sobre os mecanismos de busca e
indexadores da Internet. Histórias verdadeiras, instrutivas ou
pitorescas, sobre o uso de mecanismos de busca são bem-vindas e devem
ser enviadas para meu endereço usual, charlab@ax.apc.org. O leitor Paulo
Cesar Bouhid (pcbouhid@nutecnet.com.br) foi mais longe e enviou uma dura
charada em homenagem a seu pai. Veja se consegue resolver. Receio que os
oráculos não sejam muito úteis desta vez...
"Era uma noite fria, em Teresópolis (RJ). O velho professor recostou-se
na poltrona, junto à lareira, abriu um livro e pôs-se a ler. Foi
interrompido pela visita de um dos filhos.
- Sabe, pai, em uma de minhas andanças pela Internet, tive a
oportunidade de encontrar duas pessoas fantásticas: o Hélio e a Sandra.
O que me deixou surpreso foi saber da diversidade de idades de pessoas
que, às vezes, cultivam os mesmos gostos.
- As idades são assim tão diferentes?
- Olhe, pai, quando Sandra tiver a idade do Hélio, eu terei cinco vezes
a idade que a Sandra tinha, quando Hélio tinha a idade que Sandra tem
agora. E mais: quando Hélio tiver a minha idade, eu terei oito vezes a
idade que a Sandra tinha, quando eu tinha a idade que Hélio tem agora.
Imperturbável, o velho Bouhid, professor de matemática acostumado aos
malabarismos com os números, tomou de um lápis e um pedaço de papel,
rabiscou algumas equações, e prontamente apresentou a resposta ao filho.
- Sabe, Paulo, para mim foi fácil porque eu conheço a sua idade. Mas
será que os outros, que não sabem disso, e de fato não precisam saber,
conseguiriam resolver o enigma ?
É isso. Se cada uma das pessoas citadas tem menos de 100 anos, quais as
idades de Paulo, Hélio e Sandra?"
Só há uma resposta, e se vier com explicação, para este meu endereço
(charlab@charlab.com.br), antes que outras cinco pessoas façam o mesmo,
você ganha a "medalha digital do mérito matemático" e a simpatia dos
Bouhid.
Ainda vamos falar de vários mecanismos - a toda hora surgem novos, como
o LookSmart - e softwares de busca. Se você
está gostando, avise aos seus amigos da Internet que o encontro é aqui.
E diga aos que perderam as partes iniciais deste tutorial que podem
enviar e-mail para charlab@charlab.com.br e pedir para completar a
série. Semana que vem, mais Brasil na série.
* Sérgio Charlab (charlab@ax.apc.org) é editor-chefe de Seleções do Reader's Digest, colunista de "Ciberespaço" do Jornal do Brasil e autor dos livros "Você e a Internet no Brasil" e "O Seu Futuro Eletrônico".